quarta-feira, 1 de setembro de 2010
REAÇÃO À OBESIDADE
Desde a década de 1970 a proporção de brasileiros acima do peso só aumenta, mas a reação de governos e sociedade não consegue nem mesmo conter essa tendência, porque se limita a repetir lugares comuns. A avaliação é de Marle Alvarenga, pós-doutora em nutrição e saúde pública da Universidade de São Paulo (USP).
“Com as exceções dos bolsões de pobreza de sempre, especialmente no Nordeste e Norte, há um avanço generalizado da obesidade no Brasil”, diz a especialista. “Mas na hora de enfrentar o problema, o discurso fica sempre na mesma coisa. Sim, é preciso incorporar uma alimentação saudável e ter atividade física regular, mas na hora do ‘como’ não há políticas consistentes.”
Segundo Marle, o Brasil ainda carece de uma estratégia ampla de promoção da atividade física. “Tem de ser uma atividade física que as pessoas consigam fazer. Mas vão fazer que hora? Se a pessoa sai de casa às 6 da manhã e volta às 9 da noite? O risco é que fique parecendo que a culpa é só dos indivíduos, quando o erro é a falta de uma estratégia que funcione.”
Alimentação
Para piorar, as mudanças de perfil da sociedade brasileira nas últimas décadas fizeram com que as famílias tenham menos tempo, e foco, na questão da alimentação. “Há trabalhos interessantes, voltados à análise do valor do comer em família, que mostram que entre as crianças que se sentam à mesa com seus pais e irmãos para fazer as refeições os níveis de obesidade são menores”, conta Marle. Mas o problema é, cada vez mais, justamente conseguir reunir a família.
As escolas também têm, evidentemente, um papel fundamental, mas não conseguem dar sua contribuição. “Estão muito aquém do necessário, em geral as cantinas são um lixo”, aponta a nutricionista.
Finalmente, a propaganda de alimentos industrializados para o público infantil segue sem limitações importantes. Para Marle, essa publicidade explica em grande medida o avanço da obesidade infantil. “Desde quando uma criança vai achar uma maçã melhor do que uma ‘bolacha do Batman’? Um pão com queijo não vai vencer nunca um pacotinho brilhante com guloseimas, que ainda por cima vem com 5 figurinhas.”
Sem proibições
Por outro lado, uma estratégia proibitiva também não resolve o problema. “Simplesmente decretar que não se come doce, não se come gordura, isso é só radicalizar, além de ser algo inviável”, afirma Marle. A posição mais avançada no campo da nutrição é que é errado dividir alimentos entre bons e ruins. O foco é o consumo de um dado alimento em frequência e quantidade maior ou menor. “Não tem alimento proibido, que deva ser taxado como ruim, não saudável”, diz Marle.
“Como o foco tem sido emagrecimento, e não hábito alimentar saudável, o discurso dos profissionais da saúde muitas vezes tem sido irracional, e isso acaba contribuindo para o excesso de peso, porque tentam resolver na base do tudo ou nada.”
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